segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A MEDIUNIDADE EM JUNG


Eliani Gracez- Psicanalista                          

Freud é considerado o pai da psicanálise pela descoberta do inconsciente, mas foi com Jung, discípulo de Freud, que a psicanálise começou a pensar a si mesma proporcionando grandes avanços no autoconhecimento. Freud e Jung divergiram em suas ideias, Freud criou uma linha de teorias de origem sexual onde o psiquismo é escravo de seus desejos e pulsões causadas por instintos primitivos e de origem inconsciente. Uma linha pessoal de conteúdos reprimidos e recalcados de forma inconsciente. Jung criou a psicologia analítica e seguiu uma linha transpessoal, considerada por Freud uma linha voltada ao ocultismo, abominada por Freud. Jung se inspirou na cultura, nas artes, na poesia, nas esculturas, nos escritores e na coletividade humana, e seu poder criador. Para Jung, na libido está o poder criativo, ampliando assim o campo de visão delimitado por seu mestre. Jung percebeu na coletividade aquilo que ele chamou de inconsciente coletivo com resquícios de memórias ancestrais, uma herança humana, que hoje poderia ser chamada de herança genética, que compõe aquilo que ele denominou de arquétipos. Muito da estrutura humana é uma herança dos ancestrais, adaptada ao tempo, mas sem perder a raiz da ancestralidade. Jung introduziu em seus estudos aquilo que foi chamado de experiências paranormais e estados alterados da consciência, dissociação, personalidades secundárias, enfrentamento com o luto etc. Embora tudo isso seja raramente estudado na psicologia e na psicanálise, seja por preconceito entre os próprios psicanalistas ou por não saber como lidar com o tema, ou ainda, por medo do enfrentamento com o oculto. A crença na imortalidade da alma e em uma vida após morte contribuíram para estes estudos. Embora a mediunidade recebesse uma abordagem científica somente no final do século XX, ela já era estudada na antiguidade pelos egípcios na obra intitulada O livro dos mortos e pelos tibetanos em o Livro tibetano dos mortos. Estes livros tornara-se a base dos estudos da mediunidade. Em 1882, em Londres, fundou-se a Society for Psychical Research, na universidade de Cambrige, para estudos da mediunidade, do qual Jung chegou a participar. Posteriormente, investigações sobre o assunto foram retomadas em pesquisas sobre a natureza da consciência e a relação mente e corpo.



domingo, 24 de fevereiro de 2019

DEMOCRACIA, UMA MÃE QUE ACOLHE SEU FILHO


Eliani Gracez –  Psicanalista

Segundo Humberto Maturana e Gerda Verden-Zoller, hoje em dia muitas nações declaram a democracia como forma preferida de governo. No entanto, a prática da democracia como sendo uma coexistência com respeito mútuo permanece somente como um mero desejo literário. Trata-se apenas de discurso vazio de conteúdo para confundir pessoas desatentas e conseguir o poder político. O emocionar do discurso muitas vezes esconde o controle do comportamento do outro. Tais conversações se ocultam, muitas vezes, atrás de argumentos de justiça. A democracia nasce quando nasce um acordo entre os membros de uma sociedade. Conversações que estimulam a legitimidade da competição não passam de resquícios de uma sociedade patriarcal que visa o domínio sobre o outro e um estímulo a inimizade para fomentar a competição e o lucro. Em um mundo democrático existe a cooperação e o compartilhar. Portanto, o emocionar do discurso democrático deveria ser a ação de uma distribuição participativa. Para Maturana, o conceito de democracia atual vem do patriarcado que buscava o poder. Parafraseando Oscar Wild, por trás do bem reside a essência do mal. Do discurso a ação existe uma longa caminhada. No livro Amar e Brincar fundamentos esquecidos do humano, de autoria de Humberto Maturana e Gerda Verden-Zöller, os autores fazem um exame dos fundamentos da democracia. Maturana e Verden-Zöller veem a democracia como uma forma de convivência entre adultos que tenham vivido na infância a aceitação materna. Um conceito de mãe que acolhe seus filhos que na fase adulta, de fato, não somente em teoria, praticam a paz e o bem democrático. A democracia como nós a temos hoje é uma negação da vida e da dignidade centrada na apropriação do controle para manter o poder. Um patriarcado repaginado, um sistema artificial de convivência social com justificativas racionais. Isso porque a razão serve a dois senhores, o senhor do bem e o senhor do mal.



A EDUCAÇÃO PELA AUTORIDADE DEVE SER SUBSTITUÍDA POR UM NOVO MODELO RICO EM SABEDORIA


Eliani Gracez- Psicanalista

Não existe um ser universal, porquanto o ser é constituído por fatores existenciais que formam combinações e transformações transitórias que, por sua vez, alteram a cultura e levam pessoas para mudanças em uma espiral sem fim. Partindo de uma visão holística, a criança não é mais o bebê, o adolescente não é mais a criança, e o adulto de hoje não é o mesmo adulto do passado, tampouco será a mesma pessoa no futuro. Em resumo, nós e o mundo que nos cerca estamos nos transformando. O fato é que este mundo já não é mais o mesmo, esse velho planeta cheira a novidade. A mulher mudou, a criança mudou. E os idosos estão em um processo contrário, estão rejuvenescendo. Corremos, temos pressa, somos impacientes, não conseguimos parar, queremos tudo agora. Não toleramos a mesmice, enfim, queremos mudanças. A tecnologia tomou conta da vida. Computadores, máquinas informatizadas, configurações unindo hardware e software, inúmeros satélites rodeando o planeta. Segundo Zimerman, uma jovem estudante de medicina na década de 60, em um grupo de terapia, levou aproximadamente um ano e meio, com medo da culpa e do julgamento das demais pessoas do grupo, para confessar que mantinha relações sexuais com seu namorado. A moral do passado não é a mesma moral da atualidade. Hoje vivemos em um mundo interligado onde os acontecimentos importantes têm repercussão quase que instantânea. Isso requer uma visão sistêmica da vida e do mundo onde a maneira como as partes estão integradas e estruturadas é mais importante do que o individualismo. A forma como as pessoas estão integradas ao todo é mais importante do que cada parte isolada. Em meio a tudo isso, novos padrões éticos precisam ser analisados. A família nuclear passa por transformações radicais. Casamentos seguidos de separações e novos casamentos, mudaram a configuração da família. Para o psicanalista Jean-Pierre Lebrun, o modelo tradicional de família tem sofrido modificações significativas. O modelo do passado era de uma hierarquia, em forma de pirâmide, onde os filhos deviam obediência aos pais. Esse modelo tornou-se decadente e foi substituindo por um novo modelo onde o filho é tão respeitado quanto o pai, e a mulher tem a mesma igualdade e os mesmos direitos que o homem. Esse novo modelo não é bom nem ruim, ele é apenas diferente. O problema é que esse novo modelo requer uma nova forma de educação. A nova criança é ousada e não teme os pais e quer liberdade para fazer suas próprias escolhas. Ela quer ser “dona do seu nariz”. Com isso os pais perderam a autoridade sobre os filhos. A educação pela autoridade deve ser substituída por um novo modelo rico em sabedoria, onde a criança compreende sua importância no mundo e é preparada para exercer seu papel dentro da sociedade. Essa nova criança surge como espelho à liberdade da mulher. A submissão da mulher, no passado, também foi modelo para crianças que deram continuidade ao patriarcado. Em meio a essa mudança toda, tem jovens que não sabem o que fazer com sua liberdade, porque não foram preparados para enfrentar o grande desafio que é viver e fazer escolhas. Se no passado os pais faziam escolhas pelos filhos, hoje são os próprios filhos que fazem suas próprias escolhas. Isso exige um preparo que muitos não têm. Exige que pais preparem seus filhos para fazer escolhas com responsabilidade. Nesse novo paradigma também é preciso ensinar aos filhos a lidar com a adversidade e com as falhas humanas. Não somos perfeitos, vamos errar inevitavelmente mais cedo ou mais tarde. Os pais de hoje procuram dar de tudo aos filhos e criam a ilusão de uma vida sem erros. No passado, quando uma criança tirava notas baixas na escola, ela sabia que teria de se justificar diante dos pais. Hoje, quando uma criança vai mal na escola, os pais tratam como se a falha fosse do professor e não da criança. No modelo atual, é o professor que tem que se justificar pelo baixo rendimento do aluno, eximindo a criança do erro. O sonho de uma vida sem erros e repleta de prazer, muitas vezes, acaba no consumo de drogas. Uma fuga às dificuldades da vida que nem sempre é tão perfeita quanto a infância. Em meio a toda essa mudança que o planeta passou, a moral teria necessariamente que ser questionada, desse questionamento surge uma nova moral e um novo modelo de homem, que não é mais o modelo da Grécia em seu período clássico, onde o homem se oferecia aos deuses e cultuava o belo. Tão pouco é o modelo aristotélico do homem virtuoso, muito menos é o modelo medieval onde a vida só valia a pena ser vivida em Deus. A vida de hoje pede uma nova reflexão ética para dar origem a uma nova moral.


sábado, 16 de fevereiro de 2019

O PERIGO POR TRÁS DO PERFIL DO HOMEM CORTEJADOR


Eliani Gracez – Psicanalista

Pessoas dominadoras, em uma relação, gostam da submissão e do poder que exercem sobre o outro. Mais do que isso, o dominador tem prazer em ver o outro obedecendo. O dominador, em muitos casos, cuida bem do outro, tornando-se um bom cuidador (aquele que cuida na dor). Isso acaba sendo uma dificuldade a mais no desenvolvimento das habilidades e do potencial da mulher. Faz parte do perfil do dominador levar a mulher a crer que tudo o que ela precisa é de um “cuidador”, afinal, o “cuidador” não lhe deixa faltar nada. Ele providencia todas as suas necessidades, inclusive ensinando o que a mulher precisa saber. E assim o opressor da mulher se torna seu cuidador, seu professor, seu pai, seu marido, tudo em um homem só. Mulher é intuitiva e aprende com a experiência, cada momento da vida a mulher intui o caminho. Existe uma máxima que diz que a mulher não reza no altar do outro, mulher reza no seu próprio altar. A violência contra a mulher tem sido tratada como se fosse somente uma violência física que deu origem a lei Maria da Penha, embora a lei Maria da Penha contemple também a violência psicológica. Uma das causas da violência física está na necessidade de dominação do homem, e quando a mulher não se deixa dominar, o dominador parte para ameaças e força bruta, chegando, em muitos casos, a matá-la. Preferindo ver a mulher morta do que fora do seu domínio. Aniquilar com o psicológico da mulher é uma das formas de fazê-la crer na sua incapacidade em gerenciar sua vida a partir de suas habilidades, e fazê-la crer na inexistência da potência feminina. Como se potência somente existisse no homem. Com isso, a “potente criatura” se acha no direito de praticar crimes contra a mulher, crimes de tortura, crimes contra a liberdade do indivíduo. Usando sua potência para o crime, e não para andar lado à lado da potência da mulher. Esquecendo-se de que a paz mundial começa dentro de casa.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

GESTÃO DO TEMPO



Eliani Gracez - psicanalista

Já pararam para pensar quanta coisa aparece durante o dia para tirar nossa concentração. Quantas vezes durante o dia nos envolvemos com coisas que não acrescentam em nada à vida. Os dias de hoje pedem por rapidez, mas não se enganem, pessoas assoberbada de trabalho não significa que elas estejam sendo produtivas ou que estejam rendendo mais. Pelo contrário, isso é causador de estresse e consequente fadiga no trabalho, levando a um menor desempenho. Pessoas que não sabem organizar seu tempo tendem a considerar tudo importante e acreditam que somente elas podem fazer com perfeição as tarefas, só porque o outro não faz do seu jeito. Na gestão do tempo é preciso saber aquilo que realmente é importante e faz a diferença em nossa produtividade, seja profissional ou pessoal, e o que pode ser delegado para outras pessoas fazer. Saber estabelecer prioridades é fundamental. O tempo deve ser direcionado para ações assertivas. Ter muitas urgências na vida significa que muita coisa foi deixada para a última hora e tarefas não foram gerenciadas com sabedoria, gerando impaciência, agressividade, tensão. Todo esse estresse está na causa da insônia, dores musculares etc.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

QUEREMOS QUE O OUTRO FAÇA DO NOSSO JEITO

Eliani Gracez - psicanalista


Queremos que o outro faça do nosso jeito e por isso o relacionamento entra em um processo destrutivo. Somos pessoas diferentes e a diferença sempre existirá. Ao querer que outro faça tudo do nosso jeito impedimos o crescimento do outro. Impedimos, por exemplo, que o outro aprenda a tomar decisões e a desenvolver atitude.  Impedimos que o outro adquira autonomia, fazemos do outro um escravo da nossa vontade, e ainda dizemos que o outro faz tudo errado. Afinal, segundo Sartre, o outro é sempre o errado. O outro não faz tudo errado, o outro apenas faz diferente, por isso é preciso aceitar as diferenças seja em um relacionamento ou no local de trabalho, pois elas sempre existirão, e com a convivência as diferenças se tornam mais evidentes. Mas é preciso ter maturidade para lidar com essas questões para que não nos tornemos crianças birrentas. 

O MEDO DO PODER


Eliani Gracez - Psicanalista

Tememos o poder e por isso nos sabotamos. Estamos tão acostumados a uma vida medíocre que não sabemos viver de outra forma e não sabemos o que fazer com o poder que cada pessoa tem e por isso nos sabotamos e desenvolvemos resistência ao nosso crescimento. Confundimos humildade com ausência de poder. Nietzsche já alertava que a moral do fraco é a moral vencedora nesse planeta. Como existe uma moral enraizada em nós que diz que temos que ser humildes, consideramos nossa potência um erro. Poder é potência, mas onde está o nosso potencial? Na potência reside nossa sabedoria. O fenômeno da resistência tem sido observado desde os primórdios da psicanálise e continua sendo considerado a pedra angular na prática analítica. Motivo pelo qual, a resistência ainda continua sendo estudada em seus mais variados prismas. A concepção de resistência surgiu quando Freud começou a trabalhar com as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas, até então a resistência era vista como um obstáculo à análise. Em A Interpretação dos sonhos, os conceitos de resistência e censura estão relacionados, e tudo o que interrompe o progresso da análise é resistência. Aos poucos Freud entendeu que a resistência não estava somente naquilo que estava sendo reprimido em sonhos, mas também nos impulsos de origem sexual. E assim o conceito de resistência, aos poucos, foi ampliado para resistências em Inibição e em angústia. A resistência pode ser consciente ou inconsciente, segundo Zimerman, Manual de técnica psicanalista, página 97, ela sempre provém do ego, ainda que tenha outras influências da psique. A resistência pode se expressar pelas emoções, atitudes, ideias, impulsos, fantasias, linguagem, somatizações ou ações. Nesse sentido todo aspecto da vida mental pode estar relacionado a resistência. Por este motivo as resistências podem ser complexas e se apresentar de variadas maneiras tais como: faltas, atrasos, intelectualizações, exagero de silêncio, sonolência, entre outros. Pode-se também relacionar a resistência à patologia que lhe deram origem. Teríamos, nesse caso, resistência do tipo Narcísica, esquizoparanóide, maníaca, fóbicas, obsessivas etc. Também é útil considerar resistências relacionadas ao desenvolvimento emocional primitivo, entre estas o narcisismo é, particularmente, importante por se constituir no cerne da formação da personalidade e da identidade na mais tenra idade. Mãe e bebê reproduzem uma simbiose original, uma situação psíquica onde persiste um forte grau de fusão, uma não diferenciação um do outro. Quando o bebê sai da fase simbiótica, ele inicia a fase de separação e diferenciação do eu com relação ao outro. Uma diferenciação entre o bebê e sua mãe. Desta forma se dá o nascimento psicológico da criança. Enquanto a criança permanecer nesse estado simbiótico com sua mãe ele não diferenciará o eu do não eu. Neste caso a criança desenvolve uma crença ilusória e onipotente de que possui independência absoluta. Na fase simbiótica o bebê acredita que os atos de sua mãe são os seus atos, e que cada obra de sua mãe é fruto do seu desejo. E assim se forma no bebê a ilusão de que todos estão ali para ele e somente para ele. Uma ilusão se forma onde o bebê é a majestade e os outros seus súditos. Essa onipotência, em muitos casos, permanece até a fase adulta, onde as pessoas que rodeiam a pessoa onipotente estão ali para servi-la. E assim se dá o relacionamento com o mundo exterior. A não aceitação da diferenciação leva a um estado de resistência em aceitar a singularidade entre as pessoas, e a um estado de incompletude. Freud aprofundou com o tempo o estudo sobre as resistências, sobretudo a resistência e sua associação com o ego. O ego é o responsável pelo contato do psiquismo com o mundo real exterior ao indivíduo. Ele atua de acordo com o mundo exterior da pessoa, estabelecendo uma ligação entre as demandas do inconsciente e o superego. Estão no ego as percepções, sentimentos, memória e os pensamentos. Por outro lado, o Superego está relacionado as normas e valores imposto pela família, religião, moral social etc. O superego se forma durante a fase fálica, onde a criança começa a internalizar os valores e as normas sociais. O superego nos diz o que é certo e o que é errado, o que é proibido e o que é permitido. E assim os impulsos do inconsciente começam a ser inibidos. Impulsos são liberados do inconsciente e a pessoa sente, por exemplo, uma determinada vontade, mas o superego julgar aquela vontade imoral e por isso reprime. Formando assim resistências e sabotagens.






segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

DECIDA-SE PELO SUCESSO!

Eliani Gracez - Coach e psicanalista

O mito da "supermulher", aquela que dá conta de todas as tarefas, não contribui com o sucesso da mulher, pois gera expectativas e cobranças muitas vezes além da realidade, exigindo da mulher um perfeccionismo ilusório. Na luta para atingir as expectativas, a mulher esquece-se de si mesma e de seus sentimentos. Vivendo, muitas vezes, somente para o outro e não para si. Vivendo uma vida para atingir as expectativas e metas impostas pela sociedade, e sem tempo para cuidar de seus interesses pessoais. O coaching para mulheres vem para ajudar a nova mulher a desenvolver seu potencial para uma vida equilibrada, saudável e feliz, e com clareza nas metas. Uma mulher focada na sua potência e que se torna a melhor versão de si mesma.


domingo, 3 de fevereiro de 2019

A COISIFICAÇÃO DA MULHER

Eliani Gracez - Psicanalista

Para Martin Heidegger, antes de um objeto ser objeto, antes de uma obra ser obra, antes de um utensílio ser utensílio, todos são “coisa”. A coisa é a essência dos objetos e utensílios. A sociedade ainda machista vê a mulher como coisa, utensílio, objeto que possui uma essência de coisa. Devido a uma evolução tecnológica e não a uma evolução da consciência, a mulher ainda é considerada como sendo um objeto, um utensílio, uma coisa. Onde o homem decide em qual móvel, ou lugar da casa ele vai colocar a tal coisa. A coisa normalmente é colocada em um lugar que dê satisfação ao homem.  Mas Heidegger, em sua obra Ser e Tempo, pergunta pelo sentido do Ser. A mulher não é um objeto ou um utensílio, mulheres e homens são entes onde se manifesta o Ser no mundo. A pergunta que não quer calar é qual é o Ser da mulher para em um próximo passo ter a consciência desse Ser-aí-no-mundo. Para compreender o Ser, segundo Heidegger, é preciso olhar a existência e não o espírito. O Ser está no existencialismo, está na vida, está no mundo. E assim, na existência está o Ser da mulher. A mulher se faz e se refaz, muitos tentaram coisificá-la, mas como ela não é coisa, o Ser feminino persistiu aí no mundo como algo em construção. Cada época tentou aniquilar com a mulher, mas todos falharam porque ela sabe se reinventar, a mulher sabe que ela é um Ser em construção, um Ser em processo, e por isso aprende e se renova a cada tentativa de derrubá-la.  Não é possível separar o ente de seu Ser, cada mulher é um ente que carrega seu Ser, e não um objeto que carrega uma essência, a coisa. Cada homem que maltrata e mata uma mulher, não mata uma coisa, mata um Ser-no-mundo. Nascemos com uma vagina, mas, sobretudo trazemos um Ser de feminilidade, gestos delicados e atitudes fortes, um Ser de vontade. Um Ser que pinta seu rosto sem com isso ser vaidade. A vaidade está em quem se julga superior a mulher. Quanta vaidade! Nos dias de hoje, onde se fala tanto em resistência, a mulher é o símbolo da resistência sobre o planeta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Eliani Gracez - Psicanalista


Vários são os tipos de violência, mas o que tem chamado mais a atenção nos últimos tempos é a violência doméstica, a violência dentro daquilo que deveria ser o lar. Para entender melhor primeiro devemos considerar os motivos. Muito se atribui a violência doméstica ao estresse do dia-a-dia. No entanto é preciso fazer uma análise mais profunda da causa. O ser humano é um ser dual, o bem e o mal travam uma luta ferrenha diariamente, uma luta entre a consciência e a inconsciência. Do inconsciente afloram instintos primários e muitas vezes animalescos, e por isso somos capazes de tudo, somos capazes do extremo bem e do extremo mal. Sentimos um impulso e pronto, um bem ou um mal pode estar feito. Da mesma forma algumas pessoas tem o impulso de comprar tudo o que veem pela frente. Por isso é preciso trabalhar na causa dos incontroláveis impulsos. A violência doméstica tem uma causa. Assim como quem se suicida a pergunta que se faz é: o que ou quem o suicida queria matar? No caso de um homem que bate na mulher a pergunta é: a quem ele odeia tanto a ponto de bater ou matar? Nesse caso, a mulher remete o homem a qual violência sofrida no passado? Essa violência do passado pode ter sido cometida, por exemplo, pela mão, pela vó ou outra mulher qualquer, e assim ao bater na esposa o homem queria mesmo era bater, na realidade, na mulher que o traumatizou na infância. Outro exemplo é a violência doméstica sofrida pelas crianças. Se a mãe ou o pai foram crianças que sofreram violência doméstica, eles podem reproduzir no filho a mesma violência, pois se eles puderam suportar a violência, o filho também pode. Outro exemplo é de um homem que ameaçava constantemente sua mulher e seus filhos de abandono. Em terapia, o homem revelou ter sido abandonado pelo pai. Com um olhar analítico sobre a situação foi possível verificar que esse homem e sua mãe sofreram muito com o abandono. Anos mais tarde, cada vez que a sua mulher e seus filhos não o obedeciam ele usa da ameaça do abandono para que sua mulher e seus filhos tivessem medo do sofrimento de ser abandonado pelo pai causaria, e com medo do sofrimento, o obedecessem. Esquecendo-se de que esse era o seu medo e o seu sofrimento, e não o medo e o sofrimento de sua mulher e de seus filhos. Portanto, a causa da violência doméstica está em algum lugar dentro da pessoa e a relação com a família pela qual foi criado. Pelo efeito se chega a causa. A pergunta é: se a violência é o efeito, qual é a causa? De um pé de limão não nasce melancias. Portanto, causa e efeito estão em uma relação direta um para o outro. Eduquem as crianças e não precisarão colocar os homens na prisão!


Uma mente que brilha

Eliani Gracez   Em virtude da negatividade do cérebro, é preciso um empenho ativo para interiorizar as experiências positivas e cicatrizar ...