domingo, 24 de fevereiro de 2019

A EDUCAÇÃO PELA AUTORIDADE DEVE SER SUBSTITUÍDA POR UM NOVO MODELO RICO EM SABEDORIA


Eliani Gracez- Psicanalista

Não existe um ser universal, porquanto o ser é constituído por fatores existenciais que formam combinações e transformações transitórias que, por sua vez, alteram a cultura e levam pessoas para mudanças em uma espiral sem fim. Partindo de uma visão holística, a criança não é mais o bebê, o adolescente não é mais a criança, e o adulto de hoje não é o mesmo adulto do passado, tampouco será a mesma pessoa no futuro. Em resumo, nós e o mundo que nos cerca estamos nos transformando. O fato é que este mundo já não é mais o mesmo, esse velho planeta cheira a novidade. A mulher mudou, a criança mudou. E os idosos estão em um processo contrário, estão rejuvenescendo. Corremos, temos pressa, somos impacientes, não conseguimos parar, queremos tudo agora. Não toleramos a mesmice, enfim, queremos mudanças. A tecnologia tomou conta da vida. Computadores, máquinas informatizadas, configurações unindo hardware e software, inúmeros satélites rodeando o planeta. Segundo Zimerman, uma jovem estudante de medicina na década de 60, em um grupo de terapia, levou aproximadamente um ano e meio, com medo da culpa e do julgamento das demais pessoas do grupo, para confessar que mantinha relações sexuais com seu namorado. A moral do passado não é a mesma moral da atualidade. Hoje vivemos em um mundo interligado onde os acontecimentos importantes têm repercussão quase que instantânea. Isso requer uma visão sistêmica da vida e do mundo onde a maneira como as partes estão integradas e estruturadas é mais importante do que o individualismo. A forma como as pessoas estão integradas ao todo é mais importante do que cada parte isolada. Em meio a tudo isso, novos padrões éticos precisam ser analisados. A família nuclear passa por transformações radicais. Casamentos seguidos de separações e novos casamentos, mudaram a configuração da família. Para o psicanalista Jean-Pierre Lebrun, o modelo tradicional de família tem sofrido modificações significativas. O modelo do passado era de uma hierarquia, em forma de pirâmide, onde os filhos deviam obediência aos pais. Esse modelo tornou-se decadente e foi substituindo por um novo modelo onde o filho é tão respeitado quanto o pai, e a mulher tem a mesma igualdade e os mesmos direitos que o homem. Esse novo modelo não é bom nem ruim, ele é apenas diferente. O problema é que esse novo modelo requer uma nova forma de educação. A nova criança é ousada e não teme os pais e quer liberdade para fazer suas próprias escolhas. Ela quer ser “dona do seu nariz”. Com isso os pais perderam a autoridade sobre os filhos. A educação pela autoridade deve ser substituída por um novo modelo rico em sabedoria, onde a criança compreende sua importância no mundo e é preparada para exercer seu papel dentro da sociedade. Essa nova criança surge como espelho à liberdade da mulher. A submissão da mulher, no passado, também foi modelo para crianças que deram continuidade ao patriarcado. Em meio a essa mudança toda, tem jovens que não sabem o que fazer com sua liberdade, porque não foram preparados para enfrentar o grande desafio que é viver e fazer escolhas. Se no passado os pais faziam escolhas pelos filhos, hoje são os próprios filhos que fazem suas próprias escolhas. Isso exige um preparo que muitos não têm. Exige que pais preparem seus filhos para fazer escolhas com responsabilidade. Nesse novo paradigma também é preciso ensinar aos filhos a lidar com a adversidade e com as falhas humanas. Não somos perfeitos, vamos errar inevitavelmente mais cedo ou mais tarde. Os pais de hoje procuram dar de tudo aos filhos e criam a ilusão de uma vida sem erros. No passado, quando uma criança tirava notas baixas na escola, ela sabia que teria de se justificar diante dos pais. Hoje, quando uma criança vai mal na escola, os pais tratam como se a falha fosse do professor e não da criança. No modelo atual, é o professor que tem que se justificar pelo baixo rendimento do aluno, eximindo a criança do erro. O sonho de uma vida sem erros e repleta de prazer, muitas vezes, acaba no consumo de drogas. Uma fuga às dificuldades da vida que nem sempre é tão perfeita quanto a infância. Em meio a toda essa mudança que o planeta passou, a moral teria necessariamente que ser questionada, desse questionamento surge uma nova moral e um novo modelo de homem, que não é mais o modelo da Grécia em seu período clássico, onde o homem se oferecia aos deuses e cultuava o belo. Tão pouco é o modelo aristotélico do homem virtuoso, muito menos é o modelo medieval onde a vida só valia a pena ser vivida em Deus. A vida de hoje pede uma nova reflexão ética para dar origem a uma nova moral.


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