domingo, 3 de fevereiro de 2019

A COISIFICAÇÃO DA MULHER

Eliani Gracez - Psicanalista

Para Martin Heidegger, antes de um objeto ser objeto, antes de uma obra ser obra, antes de um utensílio ser utensílio, todos são “coisa”. A coisa é a essência dos objetos e utensílios. A sociedade ainda machista vê a mulher como coisa, utensílio, objeto que possui uma essência de coisa. Devido a uma evolução tecnológica e não a uma evolução da consciência, a mulher ainda é considerada como sendo um objeto, um utensílio, uma coisa. Onde o homem decide em qual móvel, ou lugar da casa ele vai colocar a tal coisa. A coisa normalmente é colocada em um lugar que dê satisfação ao homem.  Mas Heidegger, em sua obra Ser e Tempo, pergunta pelo sentido do Ser. A mulher não é um objeto ou um utensílio, mulheres e homens são entes onde se manifesta o Ser no mundo. A pergunta que não quer calar é qual é o Ser da mulher para em um próximo passo ter a consciência desse Ser-aí-no-mundo. Para compreender o Ser, segundo Heidegger, é preciso olhar a existência e não o espírito. O Ser está no existencialismo, está na vida, está no mundo. E assim, na existência está o Ser da mulher. A mulher se faz e se refaz, muitos tentaram coisificá-la, mas como ela não é coisa, o Ser feminino persistiu aí no mundo como algo em construção. Cada época tentou aniquilar com a mulher, mas todos falharam porque ela sabe se reinventar, a mulher sabe que ela é um Ser em construção, um Ser em processo, e por isso aprende e se renova a cada tentativa de derrubá-la.  Não é possível separar o ente de seu Ser, cada mulher é um ente que carrega seu Ser, e não um objeto que carrega uma essência, a coisa. Cada homem que maltrata e mata uma mulher, não mata uma coisa, mata um Ser-no-mundo. Nascemos com uma vagina, mas, sobretudo trazemos um Ser de feminilidade, gestos delicados e atitudes fortes, um Ser de vontade. Um Ser que pinta seu rosto sem com isso ser vaidade. A vaidade está em quem se julga superior a mulher. Quanta vaidade! Nos dias de hoje, onde se fala tanto em resistência, a mulher é o símbolo da resistência sobre o planeta.

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