Eliani Gracez - Psicanalista
Tememos o poder e por isso nos sabotamos.
Estamos tão acostumados a uma vida medíocre que não sabemos viver de outra
forma e não sabemos o que fazer com o poder que cada pessoa tem e por isso nos
sabotamos e desenvolvemos resistência ao nosso crescimento. Confundimos
humildade com ausência de poder. Nietzsche já alertava que a moral do fraco é a
moral vencedora nesse planeta. Como existe uma moral enraizada em nós que diz
que temos que ser humildes, consideramos nossa potência um erro. Poder é
potência, mas onde está o nosso potencial? Na potência reside nossa sabedoria. O
fenômeno da resistência tem sido observado desde os primórdios da psicanálise e
continua sendo considerado a pedra angular na prática analítica. Motivo pelo
qual, a resistência ainda continua sendo estudada em seus mais variados
prismas. A concepção de resistência surgiu quando Freud começou a trabalhar com
as lembranças “esquecidas” de suas pacientes histéricas, até então a resistência
era vista como um obstáculo à análise. Em A
Interpretação dos sonhos, os conceitos de resistência e censura estão relacionados,
e tudo o que interrompe o progresso da análise é resistência. Aos poucos Freud
entendeu que a resistência não estava somente naquilo que estava sendo
reprimido em sonhos, mas também nos impulsos de origem sexual. E assim o
conceito de resistência, aos poucos, foi ampliado para resistências em Inibição
e em angústia. A resistência pode ser consciente ou inconsciente, segundo
Zimerman, Manual de técnica psicanalista, página 97, ela sempre provém do ego,
ainda que tenha outras influências da psique. A resistência pode se expressar
pelas emoções, atitudes, ideias, impulsos, fantasias, linguagem, somatizações
ou ações. Nesse sentido todo aspecto da vida mental pode estar relacionado a
resistência. Por este motivo as resistências podem ser complexas e se
apresentar de variadas maneiras tais como: faltas, atrasos, intelectualizações,
exagero de silêncio, sonolência, entre outros. Pode-se também relacionar a
resistência à patologia que lhe deram origem. Teríamos, nesse caso, resistência
do tipo Narcísica, esquizoparanóide, maníaca, fóbicas, obsessivas etc. Também é
útil considerar resistências relacionadas ao desenvolvimento emocional
primitivo, entre estas o narcisismo é, particularmente, importante por se
constituir no cerne da formação da personalidade e da identidade na mais tenra
idade. Mãe e bebê reproduzem uma simbiose original, uma situação psíquica onde
persiste um forte grau de fusão, uma não diferenciação um do outro. Quando o
bebê sai da fase simbiótica, ele inicia a fase de separação e diferenciação do
eu com relação ao outro. Uma diferenciação entre o bebê e sua mãe. Desta forma
se dá o nascimento psicológico da criança. Enquanto a criança permanecer nesse
estado simbiótico com sua mãe ele não diferenciará o eu do não eu. Neste caso a
criança desenvolve uma crença ilusória e onipotente de que possui independência
absoluta. Na fase simbiótica o bebê acredita que os atos de sua mãe são os seus
atos, e que cada obra de sua mãe é fruto do seu desejo. E assim se forma no
bebê a ilusão de que todos estão ali para ele e somente para ele. Uma ilusão se
forma onde o bebê é a majestade e os outros seus súditos. Essa onipotência, em
muitos casos, permanece até a fase adulta, onde as pessoas que rodeiam a pessoa
onipotente estão ali para servi-la. E assim se dá o relacionamento com o mundo
exterior. A não aceitação da diferenciação leva a um estado de resistência em
aceitar a singularidade entre as pessoas, e a um estado de incompletude. Freud
aprofundou com o tempo o estudo sobre as resistências, sobretudo a resistência e
sua associação com o ego. O ego é o responsável pelo contato do psiquismo com o
mundo real exterior ao indivíduo. Ele atua de acordo com o mundo exterior da
pessoa, estabelecendo uma ligação entre as demandas do inconsciente e o superego.
Estão no ego as percepções, sentimentos, memória e os pensamentos. Por outro
lado, o Superego está relacionado as normas e valores imposto pela família,
religião, moral social etc. O superego se forma durante a fase fálica, onde a
criança começa a internalizar os valores e as normas sociais. O superego nos
diz o que é certo e o que é errado, o que é proibido e o que é permitido. E
assim os impulsos do inconsciente começam a ser inibidos. Impulsos são
liberados do inconsciente e a pessoa sente, por exemplo, uma determinada
vontade, mas o superego julgar aquela vontade imoral e por isso reprime.
Formando assim resistências e sabotagens.
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