quinta-feira, 23 de junho de 2022

Uma mente que brilha

Eliani Gracez 


Em virtude da negatividade do cérebro, é preciso um empenho ativo para interiorizar as experiências positivas e cicatrizar as negativas. Tender para o que é positivo, é na verdade, a correção de um desequilíbrio neurológico. E proporciona toda a atenção e o incentivo que deveria ter recebido na infância ○ (Rick Hanson com Richard Mendius). No significado da palavra sofrimento está contido angustia, frustração, estresse profundo. Nesse sentido, a neurociência faz duas perguntas: Que condições cerebrais são propicias a felicidade, amor e sabedoria? Como é possível usar a mente para estimular estados mentais positivos? Os estados mentais influenciam no cérebro e na liberação de hormônios. Assim como um salto de paraquedas leva o cérebro fazer sinapse e a liberar adrenalina, outros estados mentais influenciam no cérebro que liberam por exemplo serotonina, endorfina, oxitocina, dopamina, hormônios popularmente chamados de hormônios da felicidade e do prazer. Liberados na corrente sanguínea regulam nosso humor, temos assim uma circularidade, pois com o “bom humor” liberamos hormônios da felicidade e do prazer, hormônios liberados mantemos o “bom humor”. As emoções interagem com o cérebro, que interage com o corpo, que interage com o mundo. Temos então um sistema codependente. Quando o sofrimento se apresenta, muitas vezes desde a infância, temos, a grosso modo, sinapses que em nada contribuem a liberação de hormônios da felicidade e do prazer. O corpo somatiza, a depressão se instala, e por vezes a ansiedade generalizada torna-se inevitável. Provavelmente aprendemos mais sobre o cérebro nos últimos vinte anos do que toda história documentada (Alan Leshner). O desvendar da mente e do cérebro, proporcionou mais ferramentas para uma vida feliz, sobre tudo no campo da terapia. Uma mente que desperta é um cérebro que desperta para novas sinapses, isso porque descobriu-se a plasticidade do cérebro que pode perfazer outros caminhos, saindo da mesmice. 

   

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O PODER DIZ QUEM MANDA E QUEM OBEDECE


Eliani Gracez
Quando se reflete sobre algo multifacetado como o poder em uma sociedade, a primeira coisa a se verificar são suas instituições. Nas instituições o poder é sacramentado, mesmo sendo uma instituição de caridade. É o poder que irá nos dizer quem manda e quem obedece, quem receberá ajuda e quem será abandonado.  A verdadeira corrupção acontece quando são privatizadas as riquezas que deveriam ser de todos e não somente de alguns, e em nome de um inexpressivo e ilusório crescimento. Assim, as verdadeiras elites aparecem, aquela desenvolvida dentro do Estado e detentora do poder, e aquela que vem de fora e interfere nas relações dentro do Estado. Temos então uma elite poderosa e uma ameaça invisível à igualdade social. A elite que vem de fora imbeciliza a elite do Estado, pois saqueia o verdadeiro poder, as riquezas naturais do Estado. Esse espólio é legitimado pelo pensamento de que ao vender uma instituição que sofreu corrupção pelos seus membros, a corrupção possa acabar. Sendo que a maior de todas as corrupções acontece quando uma elite manipula a riqueza deixando o resto na pobreza, dividindo em dois polos e dando origem ao preconceito. Um extermínio semelhante ao de Auschwitz, porém agora sem grades tem início, deixando de fora das riquezas naturais àqueles que legitimamente são seus donos, o povo. Nessa tarefa de espólio da sociedade, não podemos deixar de apontar a culpa de intelectuais que só porque leram uma, duas ou mais bibliotecas inteiras, se acham no direito de legitimar sua pseudociência. Não existe conhecimento que não passe pela experiência, portanto, não adianta decorar centenas de livros se o intelectual de gabinete não passou pela luta da sobrevivência diária pela qual passa o povo. Sem a experiência o conhecimento se esvai e a idiotização toma conta, e pseudocientistas afloram.

SEXUALIDADE INFANTIL

Eliani Gracez  

         As tendências reprimidas que se encontram no inconsciente, segundo Freud, “trata-se quase sempre de tendências sexuais”. Um pansexualismo que ainda perpassa a obra de Freud e seus discípulos. Não vamos confundir o “quase sempre” com “sempre”. Se no inconsciente encontram-se uma parte maior de tendências sexuais do que outras tendências, isso deve-se ao fato da existência de processos inconscientes expulsos da consciência pela repressão. Os elementos que não foram reprimidos permanecem na consciência.
         Desde longa data, a sociedade e tendências religiosas, condenam a livre expressão da sexualidade. Sendo canalizada esta expressão para o casamento legal, ou seja, um único parceiro de sexo oposto e para toda a vida. Questões sobre a sexualidade são estudadas por Freud desde a infância do analisando, e assim ele afirma tendências sexuais na criança. Ao afirmar a sexualidade infantil, foi possível também afirmar a repressão sexual na criança promovida pelos pais e pela sociedade. Repressão esta que foi feita a partir de um modelo de educação opressor que não prepara a criança para a sexualidade e sim reprime a pulsão sexual desde a mais tenra idade. E assim Freud conclui que se os elementos sexuais são reprimidos desde a infância é porque eles estão lá desde este estágio. Com esta visão, fruto de dedução dialética, Freud conquistou adversários e verdadeiros inimigos, chocou o senso comum bem como os meios científicos e pedagógicos de sua época. Ele demonstrara a partir de seus estudos sobre o inconsciente que o espírito crítico e o julgamento racional do homo sapiens constituem apenas uma parte do psiquismo humano. Ao lado deste psiquismo existe uma mentalidade pré-lógica, afetiva que emana do inconsciente. Este material, muito mais pressentido, influi no raciocínio lógico. Isso significa que os medos, a repressão, a moral e a forma como uma criança é educada tem uma grande influência na racionalidade. Filósofos e médicos, contemporâneos a Freud, ao invés de procederem como pessoas de ciência, comportaram-se como o “homem da rua”. Suas observações exprimiam o preconceito da cultura e do meio social. Existe na criança uma espécie de pré-sexualidade que não se queria ver, e a curiosidade sexual da criança era reprimida.
         Para o psicanalista Abrahão Brafman, o estilo de vida de alguns pais cria problemas nas crianças. A criança se constrói a partir dos exemplos dos pais e daqueles que convivem com ela. O desenvolvimento cognitiva, intelectual e emocional da criança, afeta a visão que a criança tem de si e do mundo. Com a visão da sexualidade na criança foi possível entender melhor o adulto, pois há na criança os traços do instinto sexual. Esse instinto, quando não trabalhado adequadamente na infância, pode dar origem a perversão sexual no adulto.
         O complexo de Édipo rendeu a Freud o título de imoral. Moralistas e preconceituosos tornavam a criança assexuada. A noção de que a criança se identifica com o sexo oposto, podendo desejar sua mãe e odiar o pai, feriu sentimentos na época de Freud. Quando Freud falava de sexual seus adversários compreendiam genital. Isso em Freud é um absurdo! O adulto sente o impulso sexual e toma consciência dele, do objetivo e do objeto, a criança sente o impulso sexual, mas não toma consciência dele.
         Quanto a extensão do termo sexualidade, que foi frequentemente criticado, um simples olhar para a teoria freudiana nos dá a percepção de que o termo abrange mais do que sexo genital. O amor maternal, a ternura, a fraternidade e amizade, derivam da sexualidade. Embora Freud não quisesse afirmar que a amizade, amor, ternura e fraternidade fossem em si elementos sexuais, mas sim que derivam do instinto sexual, da libido e que estavam deslocados ou transformados no psiquismo.
        Para conhecer um pouco mais sobre o complexo de Édipo é preciso remeter ao esquema conforme Freud o concebeu nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que tratam de forma clara sobre o pensamento freudiano.
           I - Apego da criança em relação a mãe ou parente de sexo oposto ao seu.
           II - Hostilidade e ciúme, em relação ao pai ou parente de mesmo sexo, decorrente do primeiro processo.
           III - Sentimento de admiração e de afeição em relação ao parente de mesmo sexo e que se superpõe aos sentimentos hostis e cria ambivalência.
          IV - Sentimento de culpa, geralmente inconsciente e que são o cerne da hostilidade experimentada.
        Assim o menino amará sua mãe e sentirá ciúmes do pai, considerado no inconsciente como seu rival. No entanto, ao mesmo tempo, ele admira a força do pai. O mesmo acontece com a menina que amará seu pai e verá a mãe com hostilidade.
        O complexo de Édipo existe em todas as crianças. Se elas conseguirem eliminá-lo, normalmente esse é o caso, terão chances de não terem dificuldades ou transtornos sexuais. Do contrário estará aberta a porta para as neuroses. É a partir do complexo de Édipo que a sexualidade no adulto começa a tomar forma. O primeiro amor da menina é pelo pai, e deste amor derivam os demais na faze adulta. Mas para isso é preciso vencer o complexo de Édipo e substituir a sexualidade infantil pela sexualidade adulta. O adulto sente o impulso sexual e toma consciência dele e de seus objetivos. A criança sente um impulso semelhante a do adulto mas não toma consciência dele. Quando um adulto sente um impulso sexual, múltiplas formas de representações, jogos sexuais e suas consequências tomam conta da consciência. Nada disso acontece com a criança.
       O preconceito de pessoas que não queriam ter seu inconsciente revelado e que sustentavam uma criança pura, angelical e assexuada levou a acusação de um Freud imoral. No entanto, o pensamento freudiano está embasado no amor maternal, na ternura filial e a amizade que derivam da sexualidade. As relações que unem a mãe e a criança, de certa forma e as relações sociais entre os indivíduos, são ligações amorosas.

domingo, 1 de setembro de 2019

SOBRE O SILÊNCIO DOS HOMENS

Eliani Gracez

A identidade masculina foi forjada em cima da crença de que a força física daria ao homem o poder, e de posse do poder o homem dominaria o planeta a qualquer preço. O macho, predominante da espécie, tornou-se um dominador e predador, recalcando, desde a infância, seus sentimentos. Segundo Ismael dos Anjos no documentário O silêncio dos homens, o homem usa da violência como linguagem, esse tem sido o referencial de homem. Tem pelo menos 100 anos que a mulher aprendeu a se organizar e ir à luta contra a dominação masculina, as sufragistas mostraram ao mundo feminino que o predador não é tão forte assim. Daquela época até hoje, a delicada mulher, porém, nem por isso com menos força, tem penetrado no mundo do poder que antes pertencia somente aos machos alfas da espécie, causando uma crise existencial no homem que retorna ao berço da filosofia com a pergunta, quem somos nós? O homem sentindo que está perdendo seu espaço usa do referencial de macho, a força bruta para não perder o poder. Chama nossa atenção ainda a existência do que hoje se chama de feminicídio e violência doméstica, embora tenha sempre existido, demonstra a falta de evolução do homem. Em tempos pós-modernos toda essa brutalidade já deveria ter sido solucionada, e o homem poderia ser um homem superior.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

A PSICANÁLISE FRENTE AS NOVAS FORMAS DE FILIAÇÃO

Adriana C Mendes

Diante do exposto estudo, referente às questões edípicas, e a partir de uma breve análise das mudanças ocorridas nas configurações familiares, percebe-se que estes novos arranjos causam certo desconforto social, pois implicam na desconstrução de alguns conceitos tidos como verdadeiros até então. Essas inquietações como traz Cecarelli (2007), também surgem dentro dos estudos psicanalíticos. Alguns autores temem que crianças criadas no sistema monoparental ou homoparental teriam seus processos psíquicos fundamentais comprometidos, o que prejudicaria o acesso ao simbólico e à lei. Para outros, as novas formas de procriação e adoção traduziria certa onipotência narcísica, colocando a criança no lugar de objeto encobridor da castração. Outros ainda sustentam que a presença do par homem/mulher na passagem edípica seria indispensável. Corrobora-se com as ideias de Cecarelli (2007) acerca da inscrição do bebê na cultura. Tal inscrição não depende de um arranjo familiar específico, mas sim, de como na posição do Outro, uma determinada organização familiar sustentará esse bebê, assegurando-lhe a “sobrevivência psíquica”. As novas formas de filiação, resultantes tanto das novas práticas sociais no campo da família como também nas novas práticas médicas no campo da reprodução, levantam questões acerca dos estatutos do sujeito e da filiação. São vistas na atualidade formas inéditas de famílias e possibilidades de procriação até então impensáveis, que afetam o sistema simbólico que orienta os sujeitos na cultura. A separação entre sexos e reprodução e as novas possibilidades de maternidades e paternidades são abordadas e discutidas pela Psicanálise sob divergentes posições. Diante desse antagonismo, é requerida, por um lado, como um instrumento de salvação do “pai” e da “família, para controlar as pulsões, impor limites ao indivíduo na considerada “crise” do ocidente. Do outro, ela é convocada para assegurar o discurso do desejo do sexual, rompendo paradigmas e entraves historicamente estabelecidos. “Ou bem se deseja que os psicanalistas ajudem a incriminar o inconsciente, diabolizado sobe sua forma científica; ou bem que liberem cada um dos entraves representados pelas convocações históricas de família (patriarcal)” (TORT,2001, p.16). Tort não adota nenhuma das posições citadas. Ele critica as duas, privilegiando o questionamento de como a Psicanálise se posiciona frente às novas configurações parentais, enfatizando a necessidade de reconsiderar e redefinir certezas fundamentais da teoria psicanalítica. O autor trata com prudência essa questão para evitar generalizações sobre os possíveis efeitos psíquicos de um sujeito fruto de procriação artificial. As leis de filiação impõem limites e ordenam os sujeitos. São a referência, fundamental na estruturação psíquica e na inscrição do indivíduo como sujeito desejante. O psicanalista acentua a importância do nome e da genealogia como norteadores do sujeito na cultura, situando-o numa ordem, garantido a ele um lugar, uma identidade. A transmissão do sobrenome do pai está submetida á uma montagem jurídica. Os avanços da ciência e da tecnologia nos indicam a necessidade de se reconsiderar os fundamentos teóricos e conceituais da Psicanálise, uma vez que ela trata da relação do homem e seus desejos com a cultura. Como aduz Joel Birman, “esta deve ser permanentemente remodelada em consequênciados processos de transformação contínua da ordem social, que se realizam de maneira intensiva e extensiva” (BIRMAN, 2005, p.79). Frentea estes avanços, a Psicanálise, dentro de um discurso ético, pode pensar os efeitos que estas questões geram nas representações inconscientes de cada sujeito e na ordem simbólica da filiação.


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

ARMADILHAS DA MENTE

Eliani Gracez
Uma das armadilhas da mente é quando a pessoa, ao desenvolver um trabalho, tem por finalidade receber elogio, tanto na vida pessoal quanto na vida profissional. Pessoas seguras de si amam o que fazem e não precisam do elogio, elas sabem a priori que deram o seu máximo. Aliás, as pessoas sempre dão o seu máximo, mas é preciso lembrar que o máximo de um não é máximo do outro. Isso não quer dizer que não se deva receber ou fazer elogios, apenas que o elogio não pode ser a motivação.
Outra armadilha da mente é quando a pessoa não aceita a crítica. A crítica é o ponto de vista do outro, é como o outro vê o nosso trabalho, e por isso deve ser acolhida, isso não quer dizer que devemos mudar todo um trabalho por causa de uma crítica. Mas sim receber bem a crítica de um colega, de um chefe ou de um familiar.
Não querer ser infeliz ou querer sempre ser feliz. Freud, o pai da psicanálise dizia que procuramos o prazer para não ter desprazer. Queremos sempre o prazer em tudo. E assim buscamos mais e mais prazer, isso é uma armadilha, não dá para viver só de prazer, a vida é composta de prazer e de desprazer. A questão é como lidamos com o desprazer.
Alguns lidam com a crítica como sendo um desprazer, com desconforto. Mas aquele que sabe lidar com imparcialidade ao receber uma crítica, sem se deixar afetar com uma crítica muitas vezes destrutiva, essa pessoa tem sabedoria, pois sabe que a vida não é feita só de prazer ou felicidade e nem só de desprazer ou infelicidade.
Outra armadilha da mente é quando a pessoa não quer ser ignorada, trata-se daquela pessoa que gosta de chamar a atenção. Pessoas assim têm por meta chamar a atenção, seja por carência emocional, soberba ou por tantos outros motivos. Pessoas assim esquecem-se do profissionalismo. Isso é uma armadilha da mente que impede a felicidade e geradora de conflitos no ambiente de trabalho.
 Antídotos que pessoas com sabedoria usam: Amor pelo trabalho, paciência, tranquilidade, empatia. Esses são alguns antídotos que acabam com a raiva, ódio, ciúmes, inveja, orgulho, entre outros tantos. Antídotos que são usados na administração de conflitos.



O ADOECER E A REORGANIZAÇÃO DA PSIQUE

Eliani Gracez

O adoecer e a reorganização da psique tornaram-se uma possibilidade terapêutica que encoraja o analisando a superar seus conflitos, entre a pulsão e a saúde psíquica, ao trazer a luz os impulsos inconscientes reprimidos ou recalcados. O adoecer do neurótico está vinculado a uma situação patológica de frustração das pulsões e repressão da libido, sendo assim, o adoecer é consequência e não a causa de um transtorno patológico. Causas prováveis de neurose são, em geral, rigidez moral que causam recalque na infância, frustrações, falta de amor, desestrutura familiar, rigidez ética imposta pela sociedade. A repressão e mecanismos coercitivos da sociedade são fomentadores de conflitos, por exemplo, a libido versus ideal acético. E assim se instala uma luta entre dois impulsos gerando a doença ou neurose. Não vamos aqui confundir a luta entre duas polaridades que acontece na hora em que o indivíduo tem que fazer uma escolha, mas sim entre o ego e aquilo que muitas vezes ficou recalcado no inconsciente, uma verdadeira luta entre a doença e sua causa. A luta só pode ser vencida quando os dois oponentes se encontram em campo de batalha, onde um pode ver o outro, a luta acontece no consciente. E assim a neurose e sua causa se encontram para a solução do conflito instalado. Desse confronto surge de alguma forma uma solução para o neurótico. Uma luta consciente da causa e seu subsequente efeito. 

Uma mente que brilha

Eliani Gracez   Em virtude da negatividade do cérebro, é preciso um empenho ativo para interiorizar as experiências positivas e cicatrizar ...