segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O COMPLEXO DE ÉDIPO E A SUPERPROTEÇÃO NA CRIANÇA EDIPIANA

Adriana C Mendes

Já não é novidade o quanto a superproteção pode trazer consequências para o desenvolvimento da criança que pode acompanhá-la por toda a vida. É importante que pai e mãe protejam seus filhos, até mesmo para que eles se sintam amados e protegidos, mas é importante também que saibam quando deixar a “corda mais frouxa”. Pais superprotetores podem impedir que a criança crie independência, e criá-la faz parte de um desenvolvimento sadio. Pensando nisso, qual seria o peso da superproteção durante a fase do Complexo de Édipo? Poderia trazer consequências ainda maiores?
De acordo com a teoria freudiana o CE é introduzido em uma das fases do desenvolvimento psicossexual, a denominada fase fálica, que ocorre aproximadamente dos 3 aos 7 anos de idade. É nessa fase que a criança começa a se interessar pela diferença anatômica do sexo oposto e a sentir prazer na estimulação do pênis ou do clitóris. O prazer começa a deixar de ser auto erótico, a criança passa a fantasiar o contato genital, e por volta dos 5 anos de idade, ela começa a focalizar uma outra pessoa: o progenitor do sexo oposto.
A mãe é o primeiro objeto de amor e identificação tanto para o menino quanto para a menina. Aquela que cuida, protege, alimenta, mas que representa também um poder avassalador. E é nessa fase que a criança se depara com um conflito entre querer continuar tendo essa proteção e criar independência. O pai simboliza o mundo externo, aquele que sai, conhece o mundo e retorna.
Aqui podemos começar a pensar nas consequências que a superproteção e o não estímulo para a independência podem trazer para a vida da criança. Há um conflito muito grande entre continuar sendo protegida e criar independência, se afastando um pouco dessa mãe que protege, mas que também representa poder absoluto e assustador. Penso ser uma fase delicada, que exige atenção e amabilidade dos pais para com a criança, pois ela deseja a independência, mas deseja também continuar sendo protegida. É importante estimulá-la a criar independência e em contrapartida mostrar que ela continuará tendo amor e proteção.
Em meio a esse conflito a criança busca pelo pai, e o pai entra na relação como um neutralizador desse poder. O menino ao buscar pelo pai se identifica (os dois possuem pênis), e se sente acolhido como o camarada do papai. Mas nessa relação há um conflito, o mesmo pai que é amado é visto como um rival do amor da mãe. Em contrapartida, o pai também enxerga o filho como rival (vale lembrar que todo esse processo é inconsciente), pois é aquele que por determinado tempo o fez dividir a atenção e amor da esposa. O que de fato acontece após o nascimento de um filho (a), onde passa a existir mais alguém entre a relação do casal e que no inicio dependerá totalmente de cuidados. Então podemos perceber que o menino conseguiu identificar-se com o pai e tê-lo como neutralizador. Ele ama e ao mesmo tempo vê esse pai como rival, mas o seu objeto de amor edipiano continua sendo a mãe.
No caso da menina o processo se complica um pouco. Ao recorrer ao pai ela se depara com uma grande decepção, ela não se identifica com ele (ela não tem um pênis), e não se sente acolhida como uma camarada, da forma que o menino se sentiu. Mas ela ainda precisa do pai para neutralizar o poder da mãe, então ela busca um meio de conseguir que ele a acolha. Como ela se identifica com a mãe e percebe a relação de amor erótico que a mãe tem com o pai, ela passa a usar do poder de sedução para atrair e conseguir ser acolhida. É nesse ponto que acontece a troca do objeto de amor edipiano para a menina. No início ele também era a mãe, mas agora passa a ser o pai.
Durante essa fase os desejos são direcionados ao progenitor do sexo oposto, e a criança também se depara com o tabu do incesto, sentimento de culpa e vergonha muito grande.
Logo após, a criança entra no período de latência, que fica entre a fase fálica e a fase genital e dura aproximadamente dos 7 anos até a puberdade. Nesse período os impulsos e desejos sexuais incestuosos são recalcados, se tornam conteúdos inconscientes e em nenhum momento são lembrados.
A mãe é o primeiro objeto de amor e identificação tanto para o menino quanto para a menina. Aquela que cuida, protege, alimenta, mas que representa também um poder avassalador. E é nessa fase que a criança se depara com um conflito entre querer continuar tendo essa proteção e criar independência. O pai simboliza o mundo externo, aquele que sai, conhece o mundo e retorna.
A passagem do período de latência para a puberdade é marcada pela entrada na fase genital, a última fase do desenvolvimento psicossexual, que vai da puberdade em diante. Aqui a criança se depara com um novo conflito: “Não posso desejar quem amo, mas posso desejar um outro que não amo”. E ela tem a grande tarefa de fazer com que os impulsos sexuais entrem em harmonia com os impulsos carinhosos e o amor. Deverá encontrar uma maneira de se livrar do CE, direcionando seu desejo e atenção para um novo objeto de amor, livrando-se do desejo pelo progenitor. E para que essa transição seja bem sucedida é necessário que ela se relacione com outras pessoas e com o mundo externo.
Nesse período é preciso que pai e mãe sejam atenciosos porque o progenitor do sexo oposto ainda é o objeto de amor edipiano, visto como rival, e qualquer mensagem que faça parecer que o filho assumiu o lugar do pai ou a filha assumiu o lugar da mãe, o tornará um vitorioso edipiano ao invés de ajudá-lo a alcançar uma resolução sadia do CE. E um vitorioso edipiano possivelmente poderá vir a se tornar um adulto com dificuldades de se relacionar com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto.
Segundo Freud, a resolução pode ser positiva ou negativa. Na resolução positiva a criança se identifica com o progenitor do mesmo sexo e encerra a competição – A menina se identificará com a mãe, e buscará por alguém como o pai, e o menino se identificará com o pai e buscará por alguém como a mãe. Na resolução negativa, a criança abandonaria a competição e adotaria uma posição homossexual. Por exemplo, desejar o amor do pai e não ser correspondida da maneira fantasiada mais a percepção de que aquele amor continua sendo da mãe, poderia levar a menina a se sentir traída e passar a se afastar de todos os outros homens.
Dito tudo isso, vamos pensar em todo esse conflito inconsciente unido a uma possível superproteção materna ou paterna: ele/ela precisa direcionar o seu desejo e atenção para um outro objeto de amor, mas não enxerga possibilidades de fazê-lo porque de certa maneira se vê proibido de se relacionar com o mundo externo e/ou o sexo oposto. A criança sente culpa por desejar, caminha para a resolução do CE, mas recebe uma mensagem contrária. Se o pai ou a mãe a proíbem de se relacionar com o sexo oposto, por exemplo, e demonstram ciúme, ele/ela pode entender que é a menininha do papai ou o menininho da mamãe. Pronto, temos aí a mensagem tanto para o menino quanto para a menina de que venceram a competição com o progenitor do sexo oposto e tomaram o lugar do pai ou da mãe. Então a superproteção e consequentemente repressão, a levaria a uma resolução negativa do CE.
Apesar de Freud acreditar que dificilmente uma pessoa passa por essa fase ilesa, pois os conteúdos recalcados nesse período são muito fortes, uma resolução do CE sadio é o que dará mais chances de que a criança venha a se tornar um adulto com bons relacionamentos com o sexo oposto e com pessoas do mesmo sexo. Uma fixação durante a fase do CE em um dos progenitores pode trazer consequências desagradáveis, por exemplo, o adulto casar-se, mas não conseguir se relacionar de uma maneira saudável, pois inconscientemente crê que está traindo o pai ou a mãe. Os raros casos em que o indivíduo consegue uma resolução positiva, e emerge ileso, exige muito de pais extremamente sensíveis e saudáveis. Se isso acontecer, seus relacionamentos adultos têm grandes chances de serem saudáveis e livres de culpa e medo excessivos. E esses indivíduos serão capazes de passar para seus filhos e filhas uma criação com a mesma amabilidade com a qual foram criados.
Uma fixação durante a fase do CE em um dos progenitores pode trazer consequências desagradáveis, por exemplo, o adulto casar-se, mas não conseguir se relacionar de uma maneira saudável, pois inconscientemente crê que está traindo o pai ou a mãe.
BIBLIOGRAFIA
KAHN, MICHAEL. Freud Básico. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. 59-122 p.

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