Adriana C Mendes
Já não é novidade o quanto a
superproteção pode trazer consequências para o desenvolvimento da criança que
pode acompanhá-la por toda a vida. É importante que pai e mãe protejam seus
filhos, até mesmo para que eles se sintam amados e protegidos, mas é importante
também que saibam quando deixar a “corda mais frouxa”. Pais superprotetores
podem impedir que a criança crie independência, e criá-la faz parte de um
desenvolvimento sadio. Pensando nisso, qual seria o peso da superproteção
durante a fase do Complexo de Édipo? Poderia trazer consequências ainda
maiores?
De acordo com a teoria freudiana o CE
é introduzido em uma das fases do desenvolvimento psicossexual, a denominada
fase fálica, que ocorre aproximadamente dos 3 aos 7 anos de idade. É nessa fase
que a criança começa a se interessar pela diferença anatômica do sexo oposto e
a sentir prazer na estimulação do pênis ou do clitóris. O prazer começa a
deixar de ser auto erótico, a criança passa a fantasiar o contato genital, e
por volta dos 5 anos de idade, ela começa a focalizar uma outra pessoa: o
progenitor do sexo oposto.
A mãe é o primeiro objeto de amor e
identificação tanto para o menino quanto para a menina. Aquela que cuida,
protege, alimenta, mas que representa também um poder avassalador. E é nessa
fase que a criança se depara com um conflito entre querer continuar tendo essa
proteção e criar independência. O pai simboliza o mundo externo, aquele que
sai, conhece o mundo e retorna.
Aqui podemos começar a pensar nas
consequências que a superproteção e o não estímulo para a independência podem
trazer para a vida da criança. Há um conflito muito grande entre continuar
sendo protegida e criar independência, se afastando um pouco dessa mãe que
protege, mas que também representa poder absoluto e assustador. Penso ser uma
fase delicada, que exige atenção e amabilidade dos pais para com a criança,
pois ela deseja a independência, mas deseja também continuar sendo protegida. É
importante estimulá-la a criar independência e em contrapartida mostrar que ela
continuará tendo amor e proteção.
Em meio a esse conflito a criança
busca pelo pai, e o pai entra na relação como um neutralizador desse poder. O
menino ao buscar pelo pai se identifica (os dois possuem pênis), e se sente
acolhido como o camarada do papai. Mas nessa relação há um conflito, o mesmo
pai que é amado é visto como um rival do amor da mãe. Em contrapartida, o pai
também enxerga o filho como rival (vale lembrar que todo esse processo é
inconsciente), pois é aquele que por determinado tempo o fez dividir a atenção
e amor da esposa. O que de fato acontece após o nascimento de um filho (a),
onde passa a existir mais alguém entre a relação do casal e que no inicio
dependerá totalmente de cuidados. Então podemos perceber que o menino conseguiu
identificar-se com o pai e tê-lo como neutralizador. Ele ama e ao mesmo tempo
vê esse pai como rival, mas o seu objeto de amor edipiano continua sendo a mãe.
No caso da menina o processo se
complica um pouco. Ao recorrer ao pai ela se depara com uma grande decepção, ela
não se identifica com ele (ela não tem um pênis), e não se sente acolhida como
uma camarada, da forma que o menino se sentiu. Mas ela ainda precisa do pai
para neutralizar o poder da mãe, então ela busca um meio de conseguir que ele a
acolha. Como ela se identifica com a mãe e percebe a relação de amor erótico
que a mãe tem com o pai, ela passa a usar do poder de sedução para atrair e
conseguir ser acolhida. É nesse ponto que acontece a troca do objeto de amor
edipiano para a menina. No início ele também era a mãe, mas agora passa a ser o
pai.
Durante essa fase os desejos são
direcionados ao progenitor do sexo oposto, e a criança também se depara com o
tabu do incesto, sentimento de culpa e vergonha muito grande.
Logo após, a criança entra no período
de latência, que fica entre a fase fálica e a fase genital e dura
aproximadamente dos 7 anos até a puberdade. Nesse período os impulsos e desejos
sexuais incestuosos são recalcados, se tornam conteúdos inconscientes e em
nenhum momento são lembrados.
A mãe é o primeiro objeto de amor e
identificação tanto para o menino quanto para a menina. Aquela que cuida,
protege, alimenta, mas que representa também um poder avassalador. E é nessa
fase que a criança se depara com um conflito entre querer continuar tendo essa proteção
e criar independência. O pai simboliza o mundo externo, aquele que sai, conhece
o mundo e retorna.
A passagem do período de latência
para a puberdade é marcada pela entrada na fase genital, a última fase do
desenvolvimento psicossexual, que vai da puberdade em diante. Aqui a criança se
depara com um novo conflito: “Não posso desejar quem amo, mas posso desejar um
outro que não amo”. E ela tem a grande tarefa de fazer com que os impulsos
sexuais entrem em harmonia com os impulsos carinhosos e o amor. Deverá
encontrar uma maneira de se livrar do CE, direcionando seu desejo e atenção
para um novo objeto de amor, livrando-se do desejo pelo progenitor. E para que
essa transição seja bem sucedida é necessário que ela se relacione com outras
pessoas e com o mundo externo.
Nesse período é preciso que pai e mãe
sejam atenciosos porque o progenitor do sexo oposto ainda é o objeto de amor
edipiano, visto como rival, e qualquer mensagem que faça parecer que o filho
assumiu o lugar do pai ou a filha assumiu o lugar da mãe, o tornará um
vitorioso edipiano ao invés de ajudá-lo a alcançar uma resolução sadia do CE. E
um vitorioso edipiano possivelmente poderá vir a se tornar um adulto com
dificuldades de se relacionar com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto.
Segundo Freud, a resolução pode ser
positiva ou negativa. Na resolução positiva a criança se identifica com o
progenitor do mesmo sexo e encerra a competição – A menina se identificará com
a mãe, e buscará por alguém como o pai, e o menino se identificará com o pai e
buscará por alguém como a mãe. Na resolução negativa, a criança abandonaria a
competição e adotaria uma posição homossexual. Por exemplo, desejar o amor do
pai e não ser correspondida da maneira fantasiada mais a percepção de que
aquele amor continua sendo da mãe, poderia levar a menina a se sentir traída e
passar a se afastar de todos os outros homens.
Dito tudo isso, vamos pensar em todo
esse conflito inconsciente unido a uma possível superproteção materna ou
paterna: ele/ela precisa direcionar o seu desejo e atenção para um outro objeto
de amor, mas não enxerga possibilidades de fazê-lo porque de certa maneira se
vê proibido de se relacionar com o mundo externo e/ou o sexo oposto. A criança
sente culpa por desejar, caminha para a resolução do CE, mas recebe uma
mensagem contrária. Se o pai ou a mãe a proíbem de se relacionar com o sexo
oposto, por exemplo, e demonstram ciúme, ele/ela pode entender que é a
menininha do papai ou o menininho da mamãe. Pronto, temos aí a mensagem tanto
para o menino quanto para a menina de que venceram a competição com o
progenitor do sexo oposto e tomaram o lugar do pai ou da mãe. Então a
superproteção e consequentemente repressão, a levaria a uma resolução negativa
do CE.
Apesar de Freud acreditar que
dificilmente uma pessoa passa por essa fase ilesa, pois os conteúdos recalcados
nesse período são muito fortes, uma resolução do CE sadio é o que dará mais
chances de que a criança venha a se tornar um adulto com bons relacionamentos
com o sexo oposto e com pessoas do mesmo sexo. Uma fixação durante a fase do CE
em um dos progenitores pode trazer consequências desagradáveis, por exemplo, o
adulto casar-se, mas não conseguir se relacionar de uma maneira saudável, pois
inconscientemente crê que está traindo o pai ou a mãe. Os raros casos em que o
indivíduo consegue uma resolução positiva, e emerge ileso, exige muito de pais
extremamente sensíveis e saudáveis. Se isso acontecer, seus relacionamentos
adultos têm grandes chances de serem saudáveis e livres de culpa e medo excessivos.
E esses indivíduos serão capazes de passar para seus filhos e filhas uma
criação com a mesma amabilidade com a qual foram criados.
Uma fixação durante a fase do CE em
um dos progenitores pode trazer consequências desagradáveis, por exemplo, o
adulto casar-se, mas não conseguir se relacionar de uma maneira saudável, pois
inconscientemente crê que está traindo o pai ou a mãe.
BIBLIOGRAFIA
KAHN, MICHAEL. Freud Básico. 5. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. 59-122 p.
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