Eliani Gracez
O ser humano encontrou no medo
uma forma de organização social. Surge assim a cultura do medo. Impor limites,
para alguns, é impor o medo. E assim, milhares e milhares de crianças foram
educados pelo medo, para o medo e com medo. Crianças que cresceram limitadas,
angustiadas, e, é claro, infelizes. Quando uma criança é educada com medo, ela
se torna obediente e incapaz de impor sua vontade diante das relações
desiguais. O medo assume uma representação marcante e limitadora da
potencialidade humana. Por isso, a educação, historicamente, se deu através de
castigos e agressão. E assim, ao longo dos séculos, o medo foi “o carro chefe”
da educação. Como bons filhos do medo, tememos até mesmo a liberdade, pois o
medo impõe um limite atroz, e por isso desconhecemos a liberdade. Medo de
morrer, medo da velhice, medo da doença, medo de perder o que foi conquistado,
medo de promover mudanças na vida, por isso preferimos a mesmice, medo do desconhecido.
Medo de encarar um novo desafio e perder tudo. Medo de ter que começar tudo
outra vez. Medo! Medo! Medo! Onde há o medo não pode haver sabedoria, dizia um
filósofo antigo. Não sabemos mais viver sem medo e sem disseminar o medo. Seja
através de uma chinelada no filho ou um olhar ameaçador. Tem até quem pense que
só respeitamos aqueles a quem tememos. É por não saber fazer se respeitar de
outra forma, que o ditador impõe o medo e alguns pais usam o chinelo. Quanta
ausência de sabedoria! Tudo isso, porque ao invés de criar a cultura da
felicidade e ensinar aos filhos a ter responsabilidade diante da vida, por falta de
sabedoria, criamos a cultura do medo. E hoje, por mais que uma mudança no
paradigma da educação seja necessária, tememos a mudança. Foram séculos e mais
séculos de educação pelo medo. E com isso, a liberdade em pessoas despreparadas
para ela, tomou caminhos tortuosos. Tudo isso porque a liberdade na cultura do
medo foi afastada, extirpada como se fosse um grande mal. O desafio é grande,
acabar com a cultura do medo é dar a todos os seres humanos a mesma condição de
igualdade ou de liberdade com responsabilidade. Por isso hoje se fala em “rede” ou “teia” na área da
educação na da família. Onde uma pessoa não é mais importante do que a outra. O
problema é, quem é que sabe educar sem se impor através do medo? Onde estão
nossos sábios? Ditadores poderíamos apontar um monte, mas sábios, quem conhece
um?
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