sábado, 2 de março de 2019

JUNG E O CAMINHO DO INCONSCIENTE


Eliani Gracez – Psicanalista 

                                    
Culturas do passado da humanidade desenvolveram um conhecimento através de arquétipos. Um complexo sistema de pensamento, astrologia, alquimia, numerologia, signos e símbolos que os iniciados do caminho sagrado aprendem a dominar e cuidar para que não caia em mãos profanas. Esse caminho é o caminho da natureza interna de cada pessoa. Tal caminho possui racionalidade diferente da razão limitada do animal racional.  Dentro de nós pode ser encontrada a memória genética, uma memória da nossa natureza original e do motivo pelo qual perdemos nossa originalidade. Carl G. Jung, recuperou o conhecimento hermético que habita no inconsciente de cada pessoa, traduzindo o caminho para uma linguagem psicológica. O inconsciente é caótico, o mesmo caos que a Kabalá e alguns filósofos falam. As manifestações do inconsciente são muitas vezes caóticas e carecem de análise. Sonhos e visões que aparentemente são caóticos contém um sentido. O sentido pode ser encontrado em uma frase, em um pensamento, em um símbolo, em uma obra de arte, e em nossos sonhos e visões. O sentido é uma abstração não só do pensamento, mas também está contido nos sonhos que fluem do inconsciente e no dom da visão. Penetrar no inconsciente é penetrar em uma realidade diferente daquela que estamos acostumados. Por ser diferente não quer dizer que seja errada, quer dizer apenas que é diferente, e tendemos a negar o diferente, origem de todo preconceito. Jung deixou em sua autobiografia experiências onde ele entrou em contato com o conteúdo de seus sonhos e visões, e enfrentamento com suas dúvidas e temores. Jung encontrava restos arcaicos de vida no seu próprio inconsciente. Ele tentou encontrar no mundo real um caminho que desse um sentido ao mistério da vida, como não encontrou tal caminho entregou-se ao estudo do seu inconsciente.

O primeiro [sonho] que recordou foi um episódio de sua infância quando estava acostumado construir casas e castelos com pedra e lama. Esta lembrança serve de conector com sua parte mais genuína e criativa, por isso decidiu reviver esse momento retomando esta atividade de "construção". Começou a criar uma cidade na qual colocou uma igreja, mas notou que resistia a colocar o altar. Um dia, caminhando perto do lago, encontrou uma pequena pedra piramidal de cor vermelha, e ao vê-la compreendeu que devia tratar do altar. No momento que a colocou em seu sítio, voltou para sua mente a lembrança do falo subterrâneo que tinha sonhado de menino, e sentiu um grande alívio.  Parecia que o inconsciente o estava guiando à compreensão daquelas coisas que no passado não tinham tido resposta. (Jung, entre a alquimia & o xamanismo - Laura Morandini & Ariell Chris)

Jung sabia que não podia esperar dos pacientes aquilo que ele mesmo não tivesse conseguido. A diferença entre Nietzsche e Jung foi que Nietzsche se perdeu em seu mundo interior caótico, enquanto a Jung, a família e sua atividade profissional lhe conferiam a normalidade da vida. Em certo momento em sonho lhe apareceu uma figura que Jung chamou de Filemón. Tratava-se de um velho com chifres e asas que trazia consigo quatro chaves. Jung conversava com Filemón, considerando-o uma inteligência superior que o ensinou a diferenciar entre si mesmo e os objetos de seu pensamento. Em certo momento da vida Jung estava diante de uma escolha, ou seguia aquilo que ele descobriu sobre seu mundo interno, ou continuava sendo um acadêmico. Decidiu ser fiel a si mesmo e deixar seu cargo na universidade, entendeu que algo importante estava acontecendo e precisava compreender melhor o que ele havia descoberto antes de tornar tudo público. Jung descobriu o seu próprio mito e foi fiel ao seu inconsciente. Deu-se de conta de que o desenvolvimento psíquico não era linear, mas sim circular, e que tudo tendia ao centro. O centro era a meta!


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