quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O PODER DIZ QUEM MANDA E QUEM OBEDECE


Eliani Gracez
Quando se reflete sobre algo multifacetado como o poder em uma sociedade, a primeira coisa a se verificar são suas instituições. Nas instituições o poder é sacramentado, mesmo sendo uma instituição de caridade. É o poder que irá nos dizer quem manda e quem obedece, quem receberá ajuda e quem será abandonado.  A verdadeira corrupção acontece quando são privatizadas as riquezas que deveriam ser de todos e não somente de alguns, e em nome de um inexpressivo e ilusório crescimento. Assim, as verdadeiras elites aparecem, aquela desenvolvida dentro do Estado e detentora do poder, e aquela que vem de fora e interfere nas relações dentro do Estado. Temos então uma elite poderosa e uma ameaça invisível à igualdade social. A elite que vem de fora imbeciliza a elite do Estado, pois saqueia o verdadeiro poder, as riquezas naturais do Estado. Esse espólio é legitimado pelo pensamento de que ao vender uma instituição que sofreu corrupção pelos seus membros, a corrupção possa acabar. Sendo que a maior de todas as corrupções acontece quando uma elite manipula a riqueza deixando o resto na pobreza, dividindo em dois polos e dando origem ao preconceito. Um extermínio semelhante ao de Auschwitz, porém agora sem grades tem início, deixando de fora das riquezas naturais àqueles que legitimamente são seus donos, o povo. Nessa tarefa de espólio da sociedade, não podemos deixar de apontar a culpa de intelectuais que só porque leram uma, duas ou mais bibliotecas inteiras, se acham no direito de legitimar sua pseudociência. Não existe conhecimento que não passe pela experiência, portanto, não adianta decorar centenas de livros se o intelectual de gabinete não passou pela luta da sobrevivência diária pela qual passa o povo. Sem a experiência o conhecimento se esvai e a idiotização toma conta, e pseudocientistas afloram.

SEXUALIDADE INFANTIL

Eliani Gracez  

         As tendências reprimidas que se encontram no inconsciente, segundo Freud, “trata-se quase sempre de tendências sexuais”. Um pansexualismo que ainda perpassa a obra de Freud e seus discípulos. Não vamos confundir o “quase sempre” com “sempre”. Se no inconsciente encontram-se uma parte maior de tendências sexuais do que outras tendências, isso deve-se ao fato da existência de processos inconscientes expulsos da consciência pela repressão. Os elementos que não foram reprimidos permanecem na consciência.
         Desde longa data, a sociedade e tendências religiosas, condenam a livre expressão da sexualidade. Sendo canalizada esta expressão para o casamento legal, ou seja, um único parceiro de sexo oposto e para toda a vida. Questões sobre a sexualidade são estudadas por Freud desde a infância do analisando, e assim ele afirma tendências sexuais na criança. Ao afirmar a sexualidade infantil, foi possível também afirmar a repressão sexual na criança promovida pelos pais e pela sociedade. Repressão esta que foi feita a partir de um modelo de educação opressor que não prepara a criança para a sexualidade e sim reprime a pulsão sexual desde a mais tenra idade. E assim Freud conclui que se os elementos sexuais são reprimidos desde a infância é porque eles estão lá desde este estágio. Com esta visão, fruto de dedução dialética, Freud conquistou adversários e verdadeiros inimigos, chocou o senso comum bem como os meios científicos e pedagógicos de sua época. Ele demonstrara a partir de seus estudos sobre o inconsciente que o espírito crítico e o julgamento racional do homo sapiens constituem apenas uma parte do psiquismo humano. Ao lado deste psiquismo existe uma mentalidade pré-lógica, afetiva que emana do inconsciente. Este material, muito mais pressentido, influi no raciocínio lógico. Isso significa que os medos, a repressão, a moral e a forma como uma criança é educada tem uma grande influência na racionalidade. Filósofos e médicos, contemporâneos a Freud, ao invés de procederem como pessoas de ciência, comportaram-se como o “homem da rua”. Suas observações exprimiam o preconceito da cultura e do meio social. Existe na criança uma espécie de pré-sexualidade que não se queria ver, e a curiosidade sexual da criança era reprimida.
         Para o psicanalista Abrahão Brafman, o estilo de vida de alguns pais cria problemas nas crianças. A criança se constrói a partir dos exemplos dos pais e daqueles que convivem com ela. O desenvolvimento cognitiva, intelectual e emocional da criança, afeta a visão que a criança tem de si e do mundo. Com a visão da sexualidade na criança foi possível entender melhor o adulto, pois há na criança os traços do instinto sexual. Esse instinto, quando não trabalhado adequadamente na infância, pode dar origem a perversão sexual no adulto.
         O complexo de Édipo rendeu a Freud o título de imoral. Moralistas e preconceituosos tornavam a criança assexuada. A noção de que a criança se identifica com o sexo oposto, podendo desejar sua mãe e odiar o pai, feriu sentimentos na época de Freud. Quando Freud falava de sexual seus adversários compreendiam genital. Isso em Freud é um absurdo! O adulto sente o impulso sexual e toma consciência dele, do objetivo e do objeto, a criança sente o impulso sexual, mas não toma consciência dele.
         Quanto a extensão do termo sexualidade, que foi frequentemente criticado, um simples olhar para a teoria freudiana nos dá a percepção de que o termo abrange mais do que sexo genital. O amor maternal, a ternura, a fraternidade e amizade, derivam da sexualidade. Embora Freud não quisesse afirmar que a amizade, amor, ternura e fraternidade fossem em si elementos sexuais, mas sim que derivam do instinto sexual, da libido e que estavam deslocados ou transformados no psiquismo.
        Para conhecer um pouco mais sobre o complexo de Édipo é preciso remeter ao esquema conforme Freud o concebeu nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que tratam de forma clara sobre o pensamento freudiano.
           I - Apego da criança em relação a mãe ou parente de sexo oposto ao seu.
           II - Hostilidade e ciúme, em relação ao pai ou parente de mesmo sexo, decorrente do primeiro processo.
           III - Sentimento de admiração e de afeição em relação ao parente de mesmo sexo e que se superpõe aos sentimentos hostis e cria ambivalência.
          IV - Sentimento de culpa, geralmente inconsciente e que são o cerne da hostilidade experimentada.
        Assim o menino amará sua mãe e sentirá ciúmes do pai, considerado no inconsciente como seu rival. No entanto, ao mesmo tempo, ele admira a força do pai. O mesmo acontece com a menina que amará seu pai e verá a mãe com hostilidade.
        O complexo de Édipo existe em todas as crianças. Se elas conseguirem eliminá-lo, normalmente esse é o caso, terão chances de não terem dificuldades ou transtornos sexuais. Do contrário estará aberta a porta para as neuroses. É a partir do complexo de Édipo que a sexualidade no adulto começa a tomar forma. O primeiro amor da menina é pelo pai, e deste amor derivam os demais na faze adulta. Mas para isso é preciso vencer o complexo de Édipo e substituir a sexualidade infantil pela sexualidade adulta. O adulto sente o impulso sexual e toma consciência dele e de seus objetivos. A criança sente um impulso semelhante a do adulto mas não toma consciência dele. Quando um adulto sente um impulso sexual, múltiplas formas de representações, jogos sexuais e suas consequências tomam conta da consciência. Nada disso acontece com a criança.
       O preconceito de pessoas que não queriam ter seu inconsciente revelado e que sustentavam uma criança pura, angelical e assexuada levou a acusação de um Freud imoral. No entanto, o pensamento freudiano está embasado no amor maternal, na ternura filial e a amizade que derivam da sexualidade. As relações que unem a mãe e a criança, de certa forma e as relações sociais entre os indivíduos, são ligações amorosas.

Uma mente que brilha

Eliani Gracez   Em virtude da negatividade do cérebro, é preciso um empenho ativo para interiorizar as experiências positivas e cicatrizar ...